sábado, 29 de maio de 2010

Continuando : "Rochedos e Colinas"



IV

Clarissa chorava e se debatia nos braços de Magnus Sores que ria da situação enquanto Ezequiel tentava alcançá-los.
__Ezequiel! – gritou Clarissa desesperada fazendo com que Ezequiel despertasse e se deparasse com Alana ajoelhada ao seu lado e com a mão sobre a sua testa de onde escorriam gotas quentes de suor.
__Você está ardendo em febre, mas assim que beber isso se sentirá melhor. – disse Alana encostando uma caneca nos lábios dele que após beber todo o líquido disse:
__Eu não vou me sentir melhor enquanto não estiver com Clarissa novamente.
Havia desespero na voz dele e Alana viu que estava diante de um homem completamente apaixonado. Sem saber o que dizer, ela ficou sentada no chão, em silêncio, esperando que o chá fizesse efeito e ele voltasse a dormir.
Ezequiel fixou os olhos na pequena vela que Alana tinha acendido que mal conseguia iluminar o aposento. Lembrou-se da mãe que acendia velas toda noite e ajoelhada fazia suas preces. Ele não podia se ajoelhar no momento, mas sabia que seria ouvido da mesma forma, por isso, ignorando a presença de Alana, ele pediu aos céus que protegesse Clarissa de Magnus e que mantivesse sua mãe e os outros membros de seu clã a salvos.
Quando os olhos de Ezequiel fecharam e sua respiração ficou mais suave, Alana apagou a vela e voltou para seu quarto.

V

O dia ainda nem tinha amanhecido quando Igor montou em seu cavalo e partiu em direção ao clã dos Rochedos com esperanças de encontrar algum amigo de Ezequiel.
Por um pequeno buraco na parede, Alana viu o irmão se afastar. Sabia que tinha sido dura na noite anterior, mas não pôde suportar o fato de que seu irmão continuava preferindo se esconder mesmo tendo a chance de lutar.
Lembrou do dia em que o pai fora assassinado. Ainda podia ver o irmão puxando-a pelo braço enquanto dizia: __Temos que fugir! Temos que fugir!
O som de algo caindo no aposento ao lado tirou-a das lembranças e ela correu para ver o que tinha acontecido.
__O que está fazendo?
__Ficando em pé! – respondeu Ezequiel apoiado na parede.
Desviando da pequena mesa de madeira que ele tinha derrubado enquanto tentava se levantar, Alana segurou-o com força pelo braço e disse:
__Ainda é cedo para isso!
__Não posso mais ficar parado enquanto minha noiva está...
__Em perigo? Eu sei. Você já disse isso, mas me ouça, um homem que não consegue ficar em pé sem ser apoiado em uma parede não poderá ajudá-la!
Ezequiel queria argumentar, mas no fundo sabia que ela estava certa. Respirou fundo enquanto sentia a pressão da mão dela aumentar sobre o seu braço.
__Vou ficar até o seu irmão voltar porque ele talvez traga notícias dos membros do meu clã, mas...
__Amanhã você vai embora! – disse Alana soltando o braço dele e voltando para o quarto.
Ezequiel olhou para o braço e viu que Alana tinha deixado as marcas de seus dedos nele.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Sentimentos

Resolvi dar uma pausa na história para colocar algumas poesias que eu escrevi quando era mais jovem. Achei em uma pasta do computador que eu não abria há um tempinho.

Posso ver

Agora eu posso ver
O tipo de pessoa que é você
Diferente do que eu imaginava
Aquele que eu amava
Na realidade nunca existiu
Coberto por qualidades que só eu via
Entreguei-lhe tudo
Até a vida
E até isso você desprezou
De mágoas o coração partido
De lágrimas o encanto destruído
Eu tive que me refazer
Hoje passados alguns anos
Tendo aprendido com os enganos
Eu posso realmente te ver
Agora enxergo a verdade
Que o amor e a felicidade
Não sobrevivem perto de você


Outro:

Melhor sozinha

Mesmo que caminhe sem direção
Sentindo falta de sobre a minha
A tua mão
Não voltarei atrás
Melhor sozinha
Mesmo que o frio me cause dor
E eu lembre do teu calor,
Não voltarei atrás
Melhor sozinha
E assim, seguirei em frente
Melhor sozinha, dizendo sempre,
Aos que encontrar pelo caminho.



Mais um:

Esquecimento

Aqui estou
Sentada em frente a uma máquina
Que não me diz nada além do que eu já sei
E eu disfarço as lágrimas e me pergunto se algum dia
De você eu esquecerei
Apesar de já saber a resposta

Não se esquece quem se ama
Só esquece quem nunca amou
Eu ainda sonho contigo
E para mim nada acabou

Então eu desligo esta máquina
Que não me diz nada além do que eu já sei
E passo a andar pela casa me perguntando
Se te esquecerei
Apesar de já saber a resposta

Não se esquece quem se ama
Só esquece quem nunca amou
Eu ainda sonho contigo
E para mim nada acabou



O último:


Se hoje fosse o último dia de minha vida


Se hoje fosse o último dia de minha vida...
...eu correria até você só para dizer que te amo.
...abraçaria todos os meus amigos e diria o quanto são importantes para mim.
...beijaria você e diria que te amo.
...comeria meus doces preferidos na companhia de todos que adoro.
...abraçaria você com força e diria que te amo.
...cantaria bem alto todas as músicas que fizeram parte da trilha sonora de minha vida.
...beijaria e abraçaria você e diria que te amo.
...escreveria uma carta-testamento onde dividiria igualmente meus pertences queridos entre familiares, amigos e quem mais quisesse guardar, com carinho, uma lembrança minha.
... Entregaria-me a você sem reservas, sem pudor. Sem nada além de desejo e amor. Daria-me do modo mais apaixonado e apaixonante e saberia que o melhor da vida tinha sido esse instante.
E, então, quando o meu último suspiro se aproximasse, eu diria que te amo uma vez mais e partiria feliz e em paz.



Continuarei a colocar a história em uma próxima postagem.

terça-feira, 25 de maio de 2010


Um silêncio pesado caiu entre eles. Alana deu-lhe as costas para que ele não visse suas lágrimas e ele se viu dividido entre o sentimento de ódio por Magnus e de piedade por Alana. Ele também perdera o pai e sabia o quanto isso era doloroso.
__Assim que recobrar minhas forças e conseguir andar, eu vou matá-lo.
__Preocupe-se apenas em recuperar sua noiva e deixe que de Magnus Sores, eu cuido.
Ezequiel iria dizer que ela era apenas uma mulher quando ouviu passos se aproximando. Alana também os ouviu e correu em direção a pequena janela, dizendo em seguida:
__Não se preocupe. É o meu irmão que acabou de chegar.

III


Assim como a irmã, Igor começou a ouvir tudo em silêncio até o momento em que o nome de Magnus Sores foi revelado.
__Esse desgraçado parece ter o prazer de deixar as pessoas infelizes.
__Eu não estou infeliz, Igor, eu estou furioso. E vou usar toda a fúria que estou sentindo para acabar com ele.
Igor sorriu tristemente e disse:
__Também já desejei acabar com ele e sabe o que descobri? Que é impossível! Ele é protegido diariamente, constantemente por mais de cinqüenta homens. Eu morreria antes de encostar um dedo nele e, pior, deixaria a minha irmã sozinha e a mercê deles. Por isso, prefiri fugir e viver escondido nesse casebre caindo aos pedaços do que ficar e lutar sabendo que jamais venceria.
Ezequiel pensou em dizer que só os covardes fogem a luta, mas lembrou que estava falando com o homem que tinha ajudado a salvar sua vida e por isso, não disse nada. Foi Alana quem falou:
__Isso não é vida! Eu me recuso a continuar assim!
__O que quer dizer com isso, Alana? – perguntou Igor olhando assustado para a irmã.
__Quero dizer que eu vou com Ezequiel atrás de Magnus Sores e não descansarei enquanto não vê-lo morto.
__Está ficando louca? Eu não permitirei que vá e...
__Eu não estou pedindo sua permissão, estou apenas comunicando que assim que Ezequiel estiver pronto para partir, o que deve acontecer em no máximo, três dias, eu irei com ele.
__Eu não irei levá-la! – disse Ezequiel com firmeza fazendo com que Alana olhasse para ele com o rosto rubro de raiva. Ele não queria ser indelicado com ela, mas não poderia permitir que uma mulher fosse para uma batalha. __Eu entendo suas razões, mas garanto a você que irei matá-lo.
__ E fará isso sozinho? Não ouviu que ele possui mais de cinqüenta homens dispostos a matar e morrer por ele?
__Ouvi e eu também possuo homens assim no clã dos Rochedos.
__Disse que vários foram mortos e nem ao menos sabe se os outros ainda estão vivos.
__Saberei assim que puder sair daqui.
Os olhos castanhos de Alana sustentaram o olhar firme de Ezequiel por um momento, mas logo, ela abaixou a cabeça e parecendo mais calma, disse: __Desejo que encontre seus amigos sãos e salvos.
Com os ombros caídos e olhando para o chão, Igor disse:
__Ezequiel, assim que amanhecer eu irei até os Rochedos e tentarei localizar alguém do seu clã.
E antes que Ezequiel pudesse agradecer, ele continuou:
__É tudo o que posso fazer para ajudar.
Como se não suportasse mais ouvir aquela conversa, Alana se retirou do pequeno aposento sem dizer nada. Ezequiel não pode deixar de admirar a força que emanava da jovem e lamentou o fato de que Igor não possuísse a mesma força para poder ajudá-lo na luta contra Magnu Sores.

sexta-feira, 14 de maio de 2010


II


Ezequiel abriu os olhos devagar e se deparou com uma mulher debruçada sobre ele. Não conseguia ver nitidamente seu rosto e por isso, confuso, murmurou:
__Clarissa...
__Não, eu me chamo Alana Ruarte e meu irmão e eu o encontramos desacordado e ferido. Você foi atingido por uma flecha envenenada e teve muita sorte por eu ter aqui comigo os ingredientes que anularam o efeito do veneno.
Ezequiel passou a mão na cabeça tentando pôr os pensamentos em ordem. Ele estava se casando com Clarissa e de repente seu casamento foi interrompido por homens a cavalo e... Fechou os olhos na esperança de que isso o ajudasse a lembrar exatamente do que tinha acontecido.
__Qual o seu nome? – perguntou Alana olhando-o com atenção.
Ele não respondeu. Sua mente continuava a lhe mostrar o que tinha acontecido. Clarissa tinha sido raptada por um homem que se denominava Magnus Sores, o Senhor do Clã das Colinas.
__Tenho que ir salvá-la! – ele disse abrindo os olhos e tentando se levantar, mas para sua surpresa, suas pernas não sustentaram seu corpo e ele teria caído se Alana não o tivesse amparado.
__Você precisa se acalmar, não pode sair por aí andando. Precisa descansar e...
__Descansar? Não posso descansar enquanto minha noiva está em perigo.
__Conte-me tudo o que aconteceu para que meu irmão e eu possamos ajudá-lo.
__E onde está seu irmão?
__Foi buscar mais água na fonte, mas não irá demorar, agora sente-se e conte-me tudo.
Mesmo a contragosto, Ezequiel se sentou na cama e começou a contar tudo o que lembrava. Alana ouvia em silêncio até que ele falou o nome do seqüestrador de Clarissa.
__Magnus Sores, o Senhor do clã das Colinas?! Foi esse crápula que seqüestrou sua noiva?!
__Sim, você o conhece?
Alana suspirou profundamente e quando falou foi com a voz trêmula:
__Infelizmente sim. Ele é o homem que matou meu pai, o verdadeiro senhor do clã das Colinas.

terça-feira, 11 de maio de 2010


As gargalhadas de Magnus ecoavam enquanto via seus homens atearem fogo as casas fazendo com que mulheres e crianças saíssem correndo delas.
Ezequiel viu quando um homem apeou do cavalo e pegando uma mulher pelos cabelos disse:
__ Você é velha demais! Não merece viver!
A mulher gritou quando foi atirada ao chão e sabendo que não tinha para onde fugir, abaixou a cabeça à espera da espada que iria lhe tirar a vida, mas o som de um corpo caindo ao seu lado a fez erguer os olhos. O corpo era do homem que queria matá-la e quem estava em pé em sua frente agora era seu filho Ezequiel.
__Mãe, corra para a floresta e se esconda! – Ele disse assim que conseguiu levantá-la.
__E você, filho?
__Tenho que achar Clarissa. Agora vá!
Ainda atordoada, ela fez o que ele pediu enquanto rezava para que aquela não fosse a última vez que o estava vendo.
__Clarissa! – chamou Ezequiel, mas em resposta só havia choros e gritos de mulheres e crianças.
Ele chamou novamente e foi Tomás, um menino de dez anos que estava escondido em cima de uma árvore que gritou:
__Ela está sendo levada! Veja!
Ezequiel seguiu a direção que ele apontava e viu que Clarissa estava sendo carregada por Magnus. Dominado pela fúria, ele correu até onde seu cavalo estava e apesar da dor do ombro aumentar a cada segundo, ele montou rapidamente e pôs se a segui-los.
__Me solte!– gritou Clarissa enquanto tentava se livrar do braço de Magnus que a segurava com força.
Ele não parecia ouvi-la. Assim como os outros homens de seu clã também fingiam não ouvir os apelos das mulheres que tinham seqüestrado. Seguindo o gesto de Ezequiel, outros homens do clã dos Rochedos também tinham pegado seus cavalos e estavam atrás dos ladrões de suas mulheres, mas os cavalos deles não eram tão rápidos como eles desejavam e assim a distância ficava cada vez maior e Ezequiel já não tinha forças para manter os olhos abertos. O buraco no seu ombro jorrava sangue sem parar, mas mesmo assim, ele se negava a desistir. Não podia perder Clarissa. Não suportaria perdê-la. O nome dela saiu de seus lábios junto com um último suspiro antes que ele desmaiasse.

sábado, 8 de maio de 2010


Clarissa ainda tentou segurá-lo, mas, de modo firme, ele afastou suas mãos e disse para ela ir se esconder com as outras.
O som das flautas foi substituído pelo som de espadas sendo desembanhadas. Ezequiel lembrou que devido ao casamento tinha decidido não colocar sua espada na cintura e agora esperava não pagar caro por esse erro.
Assim que os homens pararam os cavalos perto dele, Ezequiel perguntou com autoridade:
__Quem são vocês? E o que querem aqui?
Houve um instante de silêncio até que um dos homens que estava mais atrás apeou do cavalo e passou pelos os outros que estavam a sua frente. O modo como os outros deram espaço para ele passar fez Ezequiel perceber que seja lá quem fosse aquele homem, era, com certeza, o líder.
__Eu sou Magnus Sores, Senhor do Clã das Colinas e vim aqui buscar uma mulher para mim e se os meus guerreiros quiserem também poderão pegar algumas.
Os homens ao lado de Ezequiel mexeram-se irritados com a ousadia, mas não fariam nada sem a ordem dele que, tentando demonstrar calma, disse:
__Não damos nossas mulheres. Portanto, o senhor e seus guerreiros podem ir embora.
A boca de Magnus se contorceu em um pequeno sorriso frio e ele murmurou:
__Sim, senhor.
Ezequiel estranhou a súbita mudança no tom de voz dele e, imediatamente, sentiu que estava diante de uma pessoa perigosa, mas preferiu não dizer o que pensava. Aquele era o dia de seu casamento e o homem já estava montando no cavalo, o que indicava que iria fazer o que Ezequiel tinha dito.
__Ainda bem que eles já vão embora. – disse Matias, um jovem guerreiro do clã dos Rochedos, que estava ao lado de Ezequiel, mas mal ele terminou de falar, Magnus fez sinal para que seus homens atacassem e um deles atirou uma flecha que atingiu em cheio o ombro de Ezequiel que com o impacto caiu. A dor não o impediu de levar a mão ao ombro ferido, arrancar a flecha e se levantar. Ele tinha que proteger seu povo daqueles bárbaros. Era para isso que era o líder. Olhando em volta a procura de uma espada, ele viu os corpos sem vida de seus amigos que tinham sido pisoteados pelos cavalos de Magnus Sores e seus guerreiros. A visão o chocou, mas, no momento, ele não tinha tempo para lamentar aquelas mortes e muito menos para pegar seu anel de casamento que ficou caído no chão junto dos cadáveres. Naquele momento ele tinha que lutar e foi por isso que mais do que depressa, ele pegou a espada de um dos bravos guerreiros mortos e se uniu com os outros homens que ainda tentavam desesperadamente proteger o clã.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Rochedos e Colinas: Primeiro capítulo





O sol começou a desaparecer por trás das montanhas dando a terra um tom avermelhado. Ezequiel Villar, o jovem líder do clã dos Rochedos, achou que o tom era perfeito para aquele dia. O dia em que estava se casando com Clarissa Larios, a mulher que ele tinha escolhido para chamar de sua. Ela sorriu para ele enquanto dançava ao som das flautas e tambores que os homens e as mulheres do clã tocavam. Vendo-a se aproximar, Ezequiel acreditava ter escolhido a mulher ideal e que viver ao lado dela seria o suficiente para fazê-lo feliz. Aos vinte e oito anos, ele se sentia pronto para construir sua própria família. Podia facilmente imaginar seus futuros filhos. Seriam homens fortes e justos que honrariam o sobrenome Villar e o ajudariam a proteger o clã dos Rochedos. Talvez, eles também tivessem uma menina que seria tão bela e doce como a mãe. A visão o fez sorrir, mas logo ele voltou toda sua atenção para o presente e fixou seus olhos negros nos olhos azuis de Clarissa. O som dos tambores cessou, só restando apenas a suave melodia das flautas. Era chegado o momento em que ele retiraria o seu anel e o entregaria a ela. O anel que selaria a união de ambos. Ainda dançando, Clarissa começou a se aproximar mais dele até que seus corpos ficaram praticamente colados. Devagar, Ezequiel pegou a delicada mão dela entre as suas e se preparou para colocar o anel quando ouviu um grande alvoroço. Rapidamente, ele se virou na direção do barulho e viu, com espanto, cerca de cinquenta homens se aproximando a cavalo.
___Quem são eles? – perguntou Clarissa assustada.
Ezequiel deu um passo à frente. Ele jamais tinha visto aqueles homens, mas algo no modo que se aproximavam o fez perceber que eles não vinham em paz. Então, ele ordenou:
__ Mulheres, peguem as crianças e se escondam! Homens venham comigo!