segunda-feira, 21 de junho de 2010


Não querendo falar sobre o passado do qual também era vítima, Igor olhou para Ezequiel e disse:
__Sua mãe e mais oito crianças ficaram sob os cuidados de um menino de dez anos. Ele fica segurando uma espada que é quase maior que ele. Eu tenho certeza de que ele dará a própria vida para protegê-las, mas peço sua permissão para abrigá-los aqui até sua volta.
Ezequiel pensou por um momento e perguntou:
__Você tem uma espada?
__Sim, quer dizer, não. Na verdade, a única espada que tem nesse aposento é sua.
__Minha?
__Isso mesmo. Ela estava caída ao seu lado quando Alana e eu o encontramos. Por isso, nós a trouxemos, mas em nenhum momento pensamos em ficar com ela. Iríamos lhe entregar assim que estivesse recuperado e pronto para partir.
Ezequiel passou a mão pela barba. Seus olhos já não tinham mais nenhum foco. Ele tentava lembrar do momento que tinha pegado à espada, mas não conseguia. Então, desistiu e perguntou a Sebastião:
__Trouxe quantas espadas?
__Quatro. Uma já era minha e as outras três eu peguei de três dos nossos falecidos homens.
__E a minha espada? Eu lembro que não estava com minha espada na festa. Não queria algo que lembrasse guerra no momento de meu casamento com Clarissa.
__Entendo, senhor. E eu realmente procurei por mais espadas na nossa aldeia, mas, como já disse antes, não havia nada além de cinzas e sangue.
__Parece que o clã de Magnus Sores levou mais do que nossas mulheres. – disse Ezequiel batendo com força, o punho fechado na parede.
__Foi exatamente o que ele fez com o nosso povo. –disse Alana e dessa vez havia em sua voz um misto de ódio e tristeza.
Para fugir mais uma vez do assunto, Igor perguntou a Ezequiel:
__E então? Posso trazer sua mãe e as crianças para ficarem aqui?
__Sim, desde que fique com a espada que encontrou caída ao meu lado e a use se for necessário.
Igor sentiu os olhos da irmã sobre ele e com medo de que ela revelasse para Ezequiel e Sebastião que ele não sabia nem ao menos segurar uma espada, ele se apressou em dizer:
__Farei o meu melhor.
Ezequiel desejava ter outro homem a quem pudesse confiar sua mãe e as crianças, mas não tinha outra escolha. Só esperava que Igor não fugisse a luta como já tinha feito antes.
__Creio que será inútil pedir para que me leve com você amanhã - disse Alana e havia algo de selvagem em sua voz que surpreendeu Ezequiel já que nenhuma mulher tinha se dirigido a ele daquele modo antes.
__Não comece com essa história de novo, Alana. Aliás, é melhor você ir para o seu quarto e...
__Eu estou falando com o Ezequiel e não com você, Igor.
Igor empalideceu e abriu a boca, mas antes que dissesse algo, Ezequiel falou:
__É inútil mesmo, Alana. Eu jamais levaria uma mulher para a guerra. Pensei que já tivesse deixado isso claro ontem.
Alana o olhou durante um momento. Um instante em que ele julgou que ela fosse agredi-lo, mas surpreendendo-o novamente, ela apenas disse:
__Se essa é a sua última palavra, eu não pedirei mais. Agora se me dão licença, eu irei para o meu quarto.
Os três ficaram em silêncio enquanto Alana se retirava. Só após ouvir o barulho da porta do quarto sendo fechada foi que Ezequiel olhou para Sebastião e disse:
__Vá dormir agora, meu amigo porque partiremos assim que os primeiros raios de sol surgirem.

Nenhum comentário:

Postar um comentário