sábado, 12 de junho de 2010


No resto da tarde, Ezequiel se manteve em silêncio e na maior parte do tempo, ficou de olhos fechados. Ele não conseguia e nem queria dormir, mas preferia não ficar olhando para Alana.
Ela, por sua vez, ficava pensando no que dizer para ganhar a confiança dele. Para fazê-lo mudar de idéia quanto a levá-la para enfrentar Magnus.
Quando a noite chegou, Ezequiel disse:
__Não agüento mais esperar!
Alana sabia que para um alguém como ele, esperar era algo muito difícil. Ele era um líder, um homem de ação. Assim como seu pai tinha sido. Surpresa por ter comparado um homem que mal conhecia a seu adorado pai, Alana começou a andar de um lado para o outro na tentativa de concentrar seus pensamentos em Igor.
Com os olhos, Ezequiel acompanhava os movimentos dela e após alguns segundos disse:
__Seu vai- e- vem já está me deixando tonto.
__Desculpe é que... – Alana não teve tempo de terminar a frase porque ouviu o som de cavalos se aproximando e correu para a janela.
__É seu irmão? – perguntou Ezequiel começando a levantar.
__Sim e ele não veio sozinho!

VI

Mesmo sem saber qual de seus amigos estava com Igor, Ezequiel sentiu-se mais forte e quando, finalmente viu Sebastião entrar no pequeno aposento, ele sorriu pela primeira vez desde que seu casamento tinha sido interrompido pelo clã das Colinas.
__Senhor, não sabe como me alegro em vê-lo vivo. – disse Sebastião se curvando diante de Ezequiel que no mesmo instante colocou uma mão em seu ombro dizendo:
__Também estou feliz em vê-lo, meu amigo.
Sebastião levantou os olhos parecendo surpreso em ser chamado de amigo por seu líder, mas ignorando isso, Ezequiel perguntou:
__Onde estão minha mãe e os outros? Quantos mortos e feridos? Conte-me tudo.
__Sua mãe está bem, ela está segura dentro de uma gruta junto com as crianças. Graças ao bom Deus, nenhuma criança foi ferida, mas, infelizmente...
Sebastião parecia não saber como continuar, mas mesmo desconfiando que ouviria algo horrível, Ezequiel insistiu:
__ Mas infelizmente o quê, Sebastião?
__ Nós perdemos todos os nossos homens,senhor.
__Todos?! Como assim todos?!
__É tão horrível de explicar, mas assim que o ataque começou perdemos muitos homens pisoteados pelos cavalos dos inimigos. Depois mais alguns foram mortos enquanto duelavam para impedir que suas esposas fossem levadas. Por fim, os que restaram montaram em seus cavalos e seguiram os raptores, mas foram todos atingidos por flechas envenenadas. Eu só sobrevivi porque estava mais atrás e ao ver o que estava acontecendo parei de segui-los.
__E por que não tentou socorrê-los? Eu também levei uma flechada, mas sobrevivi.
__Eu tentei, senhor, juro que tentei, mas já não tinha mais nada a ser feito, eles estavam agonizando e só me pediram para que voltasse para cuidar das crianças. E foi o que fiz. Eu voltei e encontrei o que antes era nossa bela aldeia reduzida a cinzas e sangue. Eu achei que iria ficar louco e provavelmente teria ficado se não fosse ter visto Tomás saindo de cima de uma das árvores. Ele tinha ficado todo o tempo escondido ali e tinha visto para onde as outras crianças tinham ido. Então, nós fomos nos reunir a elas.
Ezequiel sentiu um aperto no peito, mas nada disse. Sabia que se falasse seria com a voz trêmula e embargada pelo nó que ele tinha na garganta.
__Foi exatamente o que ele fez com o nosso povo. – disse Alana e o ódio em sua voz era tão grande quanto a dor que havia na de Sebastião.

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