sexta-feira, 30 de julho de 2010


O lábio de Alana tremeu e Ezequiel colocou o braço sobre a mão dela fazendo com que ela abaixasse a espada.
__Isso não pode ser verdade... Aquele homem não pode ser o meu irmão! – disse Alana enquanto lágrimas começavam a rolar por seu rosto.
Rosália a olhou num misto de compreensão e tristeza e disse:
__Mas é a verdade, querida. E posso te dar provas disso.
__Provas?
__Sim, no dia em que seu pai morreu, Magnus hipnotizou todos os guerreiros do clã, mas não conseguiu fazer o mesmo com você e seu irmão porque bruxos não podem enfeitiçar seus familiares. Foi por esse mesmo motivo que o dragão se desfez ao tocar em você hoje.
Alana caiu em um pranto dolorido e Ezequiel sentiu vontade de abraçá-la. Vê-la tão infeliz o incomodava mais do que ele gostaria. Não era certo estar tão preocupado com ela quando Clarissa estava nas mãos de um assassino.
Clarissa... A lembrança do nome dela fez com que Ezequiel rapidamente olhasse para Rosália e dissesse:
__Sei que tem muitas coisas sobre o passado que a senhora tem para dizer, mas agora eu preciso saber como entrar no castelo das Colinas porque eu preciso...
__Salvar sua noiva. – completou Rosália e diante do olhar surpreso dele, ela continuou: __Sei que você é Ezequiel Villar, o Senhor do clã dos Rochedos. As águas me mostraram seu rosto.
__As águas? – perguntou Ezequiel cada vez mais surpreso.
__Sim. Ás vezes, as águas me mostram coisas que eu preciso saber. É um dom que eu tenho.
__Dom? Isso quer dizer que você também é...
__Uma bruxa? Sim, pode-se dizer que eu sou uma bruxa, mas não tão poderosa quanto Luzia foi e muito menos quanto Magnus é.
Ezequiel, Alana e Sebastião se entreolharam e Rosália continuou:
__Não precisam ter medo de mim. Eu vim aqui para ajudá-los!
__Vai nos ajudar a matar o filho de sua amiga? – perguntou Alana com desconfiança.
__Sim, eu vou. Esse é o único modo de impedir que ele destrua tudo e todos.
__E como podemos matar um bruxo tão poderoso? – perguntou Sebastião que até então estivera calado.
__No ritual que acontecerá amanhã assim que o sol se pôr.
__Ritual? – perguntou Ezequiel achando a história cada vez mais absurda.
__Isso mesmo. De cinco em cinco anos, os bruxos tem que fazer um ritual para que seus poderes continuem por mais cinco anos. Caso o ritual não seja cumprido, os poderes irão...
__...Desaparecer. – completaram Alana e Ezequiel juntos.
Rosália sorriu para os dois e continuou:
__Exatamente. Há cinco anos, Luzia se matou para que Magnus pudesse ficar com seus poderes. Foi um grande sacrifício, mas que o deixou realmente muito poderoso.
__E que espécie de sacrifício ele pretende fazer amanhã? Tem algo a ver com Clarissa e as outras mulheres do meu clã? – perguntou Ezequiel tentando manter a calma.
__Sim, mas ele não pretende matar ninguém. Não foi esse o sacrifício que as águas o mandaram fazer.
__As águas?! Espere! Então é você quem... – começou a dizer Ezequiel em um misto de surpresa e fúria, mas ela o interrompeu dizendo:
__Sim, sou eu quem diz quais sacrifícios devem ser feitos para que os poderes continuem. Mas eu só digo o que vejo porque não posso mentir. Sabendo dessa minha fraqueza, ele me mantém na torre principal e me pergunta tudo o que deseja saber.
Ezequiel não sabia mais o que pensar. A mulher a sua frente dizia coisas absurdas, mas parecia ser a única esperança de entrar no castelo e salvar Clarissa. Diante disso, ele se viu perguntando:
__E qual é o sacrifício que Magnus deve fazer amanhã?
__Ele deverá possuir a virgem noiva de um grande guerreiro. No caso, a sua noiva!
Ezequiel fechou as mãos com força e urrou:
__Maldito! Eu irei matá-lo antes que ele possa tocar nela.
__Você só tem que esperar o sol começar a se pôr porque será o momento em que os poderes de Magnus irão embora. Sendo assim, todos os guerreiros dele irão desmaiar. Você terá apenas esse momento para agir! Não falhe porque se ele conseguir possuir a sua noiva, os poderes dele voltarão e ninguém poderá derrotá-lo nos próximos cinco anos.
__Não se preocupe, eu não vou falhar!
__Nós não vamos falhar, Ezequiel! Não esqueça que Sebastião e eu estaremos com você amanhã. – disse Alana com firmeza.
__Muito bem! Agora que já sabem o momento de agir, eu tenho que ir, pois não posso correr o risco dele desconfiar que me ausentei. – disse Rosália voltando a cobrir metade do rosto com o manto vermelho e desaparecendo completamente.

quarta-feira, 28 de julho de 2010


XIV

Ezequiel, Alana e Sebastião viraram surpresos e viram uma velha envolta por um manto vermelho.
Levantando-se de um pulo, Alana foi até a mulher perguntando:
__Rosália? É você mesmo?
Abaixando o manto que cobria quase metade de seu rosto, a velha deu um pequeno sorriso e respondeu:
__Sim, sou eu mesma, pequena Alana.
Alana abriu um grande sorriso ao ouvir o modo como sempre Rosália a tinha chamado e se atirou nos braços dela dizendo:
__Eu achei que você estivesse morta!
Rosália nada disse e Alana perguntou:
__Como você conseguiu escapar naquele dia? Como?
__ Eu não escapei.
__Como assim? – perguntou Alana soltando-a e dando um passo para trás ao mesmo tempo em que Ezequiel e Sebastião se aproximavam com olhares ameaçadores.
__Eu posso explicar tudo. Só peço para que acreditem em mim! – pediu Rosália e diante do silêncio deles, ela começou:
__Eu e Luzia sempre fomos muito amigas e quando seu pai a expulsou do clã, eu fui a única que não dei as costas para ela. Eu sempre ia visitá-la quando podia e por isso acompanhei a vida de Magnus desde o nascimento. Vi o modo errado como ele foi criado. Minha querida amiga Luzia estava perturbada emocionalmente e passou todo o ódio que sentia para Magnus. Quando ele se tornou um homem, os dois decidiram matar o Senhor Valter. Eu tentei fazê-los mudar de idéia, mas eles estavam decididos.
Os olhos de Alana se encheram de lágrimas e ela disse:
__Meu pai não fez nada de errado para merecer isso. Ele só estava protegendo o clã de bruxarias quando expulsou ela e...
__Não, querida. Essa não é a verdade!
__Como assim?
Rosália suspirou tristemente e depois disse:
__Seu pai expulsou Luzia do clã porque ela estava esperando um filho dele.
Alana cambaleou e teria caído se não fosse os braços de Ezequiel a terem amparado.
__Você está bem? – ele perguntou ao ver a palidez do rosto dela.
__Sim... – ela murmurou e voltando o olhar para Rosália, disse: __Isso o que você está dizendo é mentira!
__Não, não é! O seu pai se apaixonou por Luzia quando estava noivo de sua mãe. Ele chegou a pensar em desistir do casamento, mas foi aconselhado pelos pais a não fazer isso já que seria o futuro Senhor do clã das Colinas e tinha que casar com a mulher certa. Luzia jamais foi considerada a mulher certa por ser filha de ciganos e por possuir alguns dons. Então, o Senhor Valter fez a vontade dos pais, mas jamais deixou de ter encontros amorosos com Luzia até que ela engravidou e disse que iria contar para todos que o filho era dele. Seu pai não ficou apenas com medo de ver o nome envolvido em um escândalo, ele também ficou muito preocupado com a reação de sua mãe que além de estar grávida de Igor estava com a saúde muito abalada. Ele temeu que tal notícia a matasse. Foi por isso que ele decidiu expulsar Luzia sobre a denúncia de que ela praticava bruxarias. Lembro como se fosse hoje que muitos quiseram jogá-la na fogueira, mas ele não permitiu. Ela ainda gritou que estava grávida dele, mas ninguém iria acreditar nas palavras de uma bruxa.
Alana olhou para a espada na cintura de Ezequiel e sem pensar no que fazia a desembainhou e apontou para o rosto de Rosália dizendo:
__Diga a verdade ou eu vou matar você!
Sem demonstrar nenhum sinal de medo, Rosália disse:
__Você não irá me matar, pequena Alana porque eu já disse a verdade.

terça-feira, 27 de julho de 2010


XIII

Quando Alana conseguiu abrir os olhos encontrou Ezequiel debruçado sobre ela. Havia tanta preocupação nos olhos dele que, sem conseguir se conter, ela o abraçou.
Por um pequeno instante, ele ficou imóvel, na dúvida se a envolvia em seus braços ou se a afastava e a fazia dizer tudo o que sabia sobre Magnus Sores. Mas ao notar que o corpo dela tremia de encontro ao seu, ele permitiu que seus braços a envolvessem com força. A sensação era boa, ela se sentiu aquecida como nunca tinha se sentido antes. Desejou poder ficar para sempre naqueles braços fortes. Desejou que o tempo parasse, mas sabia que esse era um desejo impossível. Ezequiel amava Clarissa e foi lembrando disso que ela se afastou e perguntou:
__O que aconteceu?
__Você desmaiou e a fumaça negra desapareceu. Isso é tudo que Sebastião e eu sabemos agora é sua vez de nos dizer tudo o que sabe.
Alana respirou fundo e começou:
__Há vinte e cinco anos, meu pai descobriu que uma mulher do clã chamada Luzia fazia bruxarias e a expulsou. Durante muito tempo ninguém ouviu falar dela até que... – Alana fez uma pausa tentando escolher as melhores palavras para usar, mas, impaciente, Ezequiel perguntou:
__Até o quê? O que aconteceu?
__Até que Rosália disse a papai que ele deveria tomar cuidado porque Luzia tinha tido um filho e os dois planejavam se vingar dele. Papai não acreditou e ainda disse que se Rosália voltasse a dizer bobagens como aquela ele iria expulsá-la também. Então...
__Então, Magnus Sores apareceu e matou seu pai e tudo leva a crer que ele seja o filho de Luzia, certo? – perguntou Ezequiel e após mover a cabeça afirmativamente, Alana continuou:
__Lembro dele dizendo que tinha voltado para tomar o que era dele. Eu não conseguia entender como todos os guerreiros do clã ficaram contra o meu pai, mas agora percebo que foi por causa da nuvem negra. Ela era uma magia que deve ter controlado os homens os fazendo verem papai como inimigo.
__E a nuvem também virou dragão naquele dia? – perguntou Sebastião ainda sem conseguir acreditar no que tinha visto.
__Não. Ela só controlou os homens.
__E por que você e seu irmão não foram controlados também? – perguntou Ezequiel e após pensar um pouco Alana respondeu:
__Eu não sei. Acho que ele não nos queria lá nem como aliados. Mas muitas outras pessoas do nosso clã não foram controladas e elas... todas elas...foram mortas. Do mesmo modo como aconteceu com os homens do seu clã.
__Estranho. Tudo isso é muito estranho. – disse Ezequiel passando a mão pela barba e perguntando em seguida:__O que aconteceu com a mulher que avisou o seu pai sobre a vingança de Luzia?
Alana abriu a boca para responder, mas antes que pudesse dizer algo, uma outra voz feminina disse:
__Eu estou aqui.

segunda-feira, 26 de julho de 2010


Depois de horas cavalgando, Ezequiel, Alana e Sebastião finalmente puderam ver o castelo do Senhor das Colinas. A visão do lugar fez Alana lembrar do pai e o ódio por Magnus Sores retornou com força total.
__Vamos entrar agora? – perguntou Sebastião olhando para Ezequiel que erguendo a espada respondeu:
__Não irei esperar nem mais um minuto.
Alana viu uma nuvem negra começar a sair da mais alta torre do castelo. A mesma nuvem que ela tinha visto no dia em que os guerreiros de seu pai tinham se voltado contra ele. Horrorizada, ela gritou:
__A nuvem! Temos que tomar cuidado com ela!
Ezequiel e Sebastião olharam na mesma direção que Alana e pararam os cavalos assustados com a gigantesca nuvem que começava a tomar a forma de um dragão.
__O que é isso?! – perguntou Sebastião
__Magia... – murmurou Alana com a voz trêmula.
__Magia?! Então estamos lidando com um bruxo?! Por que não nos disse isso antes? – voltou a perguntar Sebastião cada vez mais nervoso.
__Porque eu achei que vocês não fossem acreditar no que nem eu mesma acreditava.
Encarando o dragão que se aproximava cada vez mais, Ezequiel gritou:
__Não vai ser um dragão de fumaça que vai me parar!
__Ezequiel, não! – gritou Alana, mas ele não a ouviu e foi em direção à grotesca nuvem negra, com sua espada erguida.
Ao vê-lo se aproximar, o dragão abriu a boca e dela saiu um jato de fogo que fez o cavalo levantar as patas dianteiras derrubando Ezequiel que rolou para o lado antes que um novo jato de fogo o acertasse. Para ajudá-lo, Alana saltou do cavalo de Sebastião e atirou uma flecha no dragão, mas ela apenas atravessou a fumaça sem incomodá-lo.
__Nada irá pará-lo! Temos que sair daqui! – gritou Ezequiel se arrastando enquanto Sebastião ia até ele e, em questão de segundos, conseguia colocá-lo na garupa do cavalo.
__Alana, venha! – chamou Ezequiel, mas antes que ela pudesse se mexer a fumaça a envolveu por completo a deixando na escuridão.

domingo, 25 de julho de 2010


Alana não conseguia dormir e de onde estava podia ver que Ezequiel sofria do mesmo mal. Tinha sido um dia difícil para todos e o que estava por vir prometia ser ainda pior.
“Senhor, dê-me forças para enfrentar os inimigos.” – ela pediu apesar de não se achar mais digna de ser ouvida.

XI

Quando os primeiros raios de sol apareceram, Ezequiel se levantou e mesmo após ter passado a noite em claro, ele não parecia cansado.
Colocando a mão sobre o ombro de Sebastião, ele disse:
__Acorde, amigo! Hoje encontraremos Clarissa e as outras mulheres do clã.
Sebastião obedeceu e Ezequiel olhou para Alana que ainda dormia. Havia marcas de lágrimas no rosto dela e mais uma vez o desejo de abraçá-la surgiu. Incomodado, ele desviou o olhar para Sebastião e disse:
__Vá acordar Alana!
Sebastião o obedeceu e instantes depois Alana estava de pé ao seu lado dizendo:
__Precisamos comer algo.
__Comer?! Acha mesmo que vou pensar em comer enquanto minha noiva está nas mãos de Magnus Sores?
O tom furioso da voz dele não intimidou Alana que continuou:
__Sei que não consegue pensar nisso, mas precisa comer algo ou não terá forças para enfrentar Magnus e os homens que trabalham para ele.
__Ela está certa, senhor. – disse Sebastião fazendo com que Ezequiel pensasse um pouco e dissesse:
__Tudo bem! Eu vi algumas árvores frutíferas pelo caminho. Perderemos alguns minutos indo até lá, mas não posso impedir ninguém de comer, nem a mim mesmo.
Sebastião olhou de modo agradecido para Alana, mas ela não percebeu. Toda sua atenção estava voltada para Ezequiel que caminhava em direção ao cavalo.
Quando ele montou, ela se aproximou e estendeu a mão para ele para que a ajudasse a subir no cavalo, mas ele a ignorou e olhando para Sebastião disse:
__Leve-a na garupa do seu cavalo.
Alana não entendeu o porquê dele não querer levá-la novamente, mas sabendo que não tinha o direito de questioná-lo sobre isso, ela se manteve em silêncio.


XII

Ezequiel fazia seu cavalo correr o mais rápido que podia. Sebastião vinha logo atrás com Alana na garupa. Mais uma vez não havia espaço para conversas. Cada um estava sozinho com seus pensamentos. Os de Ezequiel e Sebastião se resumiam em salvar as mulheres do clã e derrotar Magnus Sores. Os de Alana eram mais complexos. Ela tinha decidido ir para vingar a morte do pai, mas agora também desejava ajudar Ezequiel a salvar a noiva por mais que isso começasse a lhe causar uma dor que ela não entendia.

sexta-feira, 23 de julho de 2010


Sem dizer nada, ele a colocou na garupa de seu cavalo.
Vendo a cena, Sebastião perguntou:
__Você conhece mais algum atalho para chegar até lá, Alana?
__Não. A partir de agora, o caminho até lá é um só.
Ezequiel olhou para o sol que já começava a se pôr e disse a si mesmo que chegaria até Clarissa antes que ele se pusesse novamente.
X

Devido a velocidade com que Ezequiel cavalgava Alana precisou se segurar com força na cintura dele para não cair. Sebastião vinha no outro cavalo logo atrás. Alana agradeceu o fato de ninguém estar falando porque precisava pensar em tudo o que tinha feito e se alguma lágrima rolasse por seu rosto ninguém iria perceber e logo o vento a secaria.
Com o cair da noite, ficava cada vez mais difícil para os cavalos cavalgarem pela mata fechada. Ezequiel não queria parar, mas sabia que era preciso caso não quisesse correr o risco de que algum dos cavalos enfiasse a pata em algum buraco e acabasse se machucando seriamente.
Olhando para Sebastião, ele disse:
__Vamos parar por aqui mesmo. É impossível continuar nessa escuridão!
Assim que o cavalo parou, Alana saltou dele sem esperar pela ajuda de Ezequiel e foi sentar-se embaixo de uma árvore desejando ficar sozinha, mas não demorou muito para que Ezequiel viesse para perto dela e dissesse:
__Era seu irmão quem deveria estar aqui.
Evitando olhar para ele, Alana disse:
__Ele não gosta de violência.
__Eu também não.
Surpresa, Alana o encarou e começou a dizer:
__Mas você é o líder de um clã! Eu pensei que...
__Que isso fizesse de mim um amante das batalhas?! – completou Ezequiel com um sorriso amargo, dizendo em seguida: __Não, Alana. Eu não tenho o menor prazer em guerrear.
__Mas jamais fugiria de uma batalha como o meu irmão fez, não é?
__Não, mas eu sou um guerreiro. Tão logo aprendi a andar, meu pai me ensinou a lutar, do mesmo modo que o pai dele fez com ele.
Alana encostou a cabeça no tronco da árvore atrás dela e olhando para as estrelas disse:
__Lembro de meu pai tentando ensinar meu irmão a lutar, a como manejar uma espada, mas ele não conseguia aprender. E eu só de olhar entendia e quando mostrava para o meu pai ele dizia que eu devia ter nascido homem.
__Foi com ele que você aprendeu a usar o arco e a flecha?
__Sim. Ele me disse uma vez que se eu quisesse entrar em uma batalha que fosse com o arco e a flecha porque a espada era coisa para os homens erguerem. Por isso, ele me ensinou como fazer e usar.
__Seu pai ficaria orgulhoso do que você fez hoje.
Alana mordeu o lábio inferior. Será mesmo que seu pai podia se orgulhar dela? A imagem dos dois homens mortos voltou a sua mente fazendo-a estremecer. Na ânsia de se vingar, ela não pensou que teria que matar outras pessoas além de Magnus e agora tinha dúvidas se teria coragem de tirar a vida de mais alguém mesmo que esse alguém fosse o próprio Magnus Sores. Ezequiel notou a angústia de Alana. Ela já não era mais uma mulher fria, a máscara tinha caído. Tudo o que ele via agora era uma jovem assustada que lutava desesperadamente para não chorar. Um desejo de abraçá-la e dizer que tudo ficaria bem o invadiu. Mas logo pensou em Clarissa e em tudo o que ela também devia estar sofrendo. Pareceu ouvir sua voz o chamando e isso fez com que ele se levantasse e fosse para perto de Sebastião que tinha acabado de fazer uma fogueira.
Com os olhos fixos no fogo, Ezequiel pensou:
“Amanhã esse pesadelo chegará ao fim.”

segunda-feira, 19 de julho de 2010



homens que tentaram matá-lo e que agora não passavam de cadáveres. Seu cavalo relinchou e ao erguer os olhos para ele, Ezequiel viu que os outros dois homens não estavam mais ali.
__Vamos embora, senhor! – chamou Sebastião.
Ezequiel pegou sua espada do chão e pôs se a seguir o amigo em silêncio, mas na sua cabeça ecoava a pergunta “Quem tinha atirado às flechas e o salvado duas vezes da morte?”.
__Alana... - murmurou Sebastião surpreso e ao ouvir o nome da irmã de Igor, Ezequiel olhou na mesma direção que o amigo e assim como ele também pôde ver Alana. Ela estava pálida, descalça e suja. Mas segurava, de modo firme, um arco e uma flecha.

IX

Vencendo a pequena distância que os separava, Ezequiel a segurou com força pelos ombros perguntando:
__O que você está fazendo aqui?
__Salvando sua vida. Agora tire suas mãos de cima de mim ou serei obrigada a machucá-lo.
Por um momento, Sebastião temeu que Ezequiel pudesse bater em Alana tamanha era a fúria que havia nos olhos dele, mas para seu alívio, ele simplesmente a soltou perguntando:
__Como conseguiu chegar até aqui se nem ao menos tem um cavalo?
__Eu saí à noite e enquanto vocês dormiam, eu andava. Não parei nem para descansar e por sorte ainda conhecia alguns atalhos.
__Atalhos?! Conhecia um caminho mais rápido e não nos disse? – perguntou Sebastião tão furioso quanto Ezequiel.
__Seu líder desprezou a minha companhia pelo simples fato de eu ser uma mulher. Portanto não merecia minha ajuda.
__Se acha que não sou digno de sua ajuda por que perdeu seu tempo matando aqueles homens?
__Eles são ladrões de estrada. Sempre ouvi falar deles, mas nunca tinha visto nenhum antes. Sei que eles sempre matam aqueles que não tem ouro para lhes dar. Então, eu com certeza seria uma vítima deles também. Tudo o que fiz foi livrar o mundo desses trastes e por uma incrível coincidência acabei salvando a vida de vocês.
Abismado com a frieza de Alana, Ezequiel ficou em silêncio.
Foi Sebastião que olhando para os lados disse:
__É melhor irmos embora daqui, afinal dois deles fugiram.
Alana colocou a flecha no arco e Ezequiel viu que ela estava pronta para atirar no primeiro que aparecesse. Ele trocou um rápido olhar com Sebastião que parecia tão ou mais surpreso que ele. Nenhum dos dois tinha visto uma mulher fazer o que Alana tinha feito. Elas nunca entravam nas lutas. Isso era coisa de homem. Alana sabia que Ezequiel a observava e por isso manteve a pose de mulher guerreira, forte e corajosa. Apesar de no fundo estar horrorizada com o que tinha feito e desejar ardentemente chorar até não ter mais lágrimas.
__Por mais que você saiba se defender eu não posso permitir que você vá sozinha até o clã das Colinas. – disse Ezequiel fazendo com que Alana se virasse para ele e com o mesmo tom frio de antes, perguntasse:
__E o que pensa em fazer? Vai me levar de volta para o meu irmão?
__Não! Esse era o certo, mas não posso perder mais tempo. Por isso, vou levá-la comigo.
Alana sentiu as pernas fraquejarem ao ver a mão estendida de Ezequiel para ela, mas respirou fundo, e retomando o controle pousou a mão sobre a dele.

domingo, 4 de julho de 2010


Ezequiel o viu erguer uma faca e decidiu encarar a morte de frente. Mas antes que o aço frio pudesse transpassar sua pele, Ezequiel ouviu um som abafado de espanto e dor sair dos lábios do homem que instantes depois caiu aos seus pés com uma flecha fincada nas costas. O mais novo do grupo correu em direção ao corpo do pai enquanto os outros homens olhavam ao redor tentando descobrir de onde a flecha tinha vindo. Mas não havia sinal de ninguém por perto. Aproveitando o momento, Sebastião conseguiu se erguer um pouco e acertou uma forte cotovelada no estomago do homem que o segurava fazendo-o cambalear. Vendo o que tinha acontecido, o outro homem retirou um facão da bainha, mas antes que ele chegasse até Sebastião, este conseguiu pegar a espada e se pôr completamente de pé dizendo:
__Não há necessidade de mais derramamento de sangue. Deixe-nos ir embora. Nós somos do clã dos Rochedos, somos inimigos do Senhor Magnus Sores.
O jovem que chorava sobre o pai morto, gritou:
__Não dê atenção ao que ele diz. Nosso pai está morto e eles devem morrer também!
Ezequiel não sabia o que fazer ou dizer, sua cabeça doía devido ao tempo em que estava de cabeça para baixo e ele só torcia para que pelo menos Sebastião conseguisse sair vivo daquela situação para que pudesse ir salvar Clarissa e as outras mulheres do clã.
Sebastião esperou o ataque, mas ele não veio. O homem a sua frente não conseguia desviar os olhos do corpo do pai morto e parecia mais disposto a sentar e chorar do que a lutar.
Ao ver que o irmão não pretendia matar ninguém, o jovem rapaz pegou a faca das mãos do pai morto e levantou dizendo:
__Se você não tem coragem, eu tenho!
Ezequiel viu a faca se aproximar novamente dele e mais uma vez ela não chegou a encostar-se à sua pele porque uma outra flecha surgiu de repente e acertou o rapaz fazendo com que o corpo dele caísse sem vida sobre o do pai.
Os outros dois homens ficaram imóveis olhando a cena, pareciam petrificados pelo horror de perder o pai e o irmão em questão de minutos.
Sem perder mais tempo, Sebastião correu até onde Ezequiel estava e com um golpe de sua espada cortou a corda que prendia seus pés.
Assim que ficou de pé, Ezequiel pôde ver melhor o rosto dos dois homens que tentaram matá-lo e que agora não passavam de cadáveres.