quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Nono capítulo


9
__Ai, mãe que bom que a senhora chegou! - Disse Miriam assim que sua mãe entrou na sala.
__Nossa, Por que essa cara de desespero filha? Eu nem demorei muito no dentista.
__É que a senhora não sabe o que eu vi.
E Miriam contou o que tinha acontecido com os novos vizinhos deixando a mãe revoltada:
__Que covarde! Eu o vi hoje cedo antes de ir para o dentista, ele me cumprimentou muito sorridente e eu até o achei bem simpático. Aquele covarde! Ah, se eu estivesse aqui ele iria ver o que eu iria fazer com ele.
__Mãe, não podemos nos meter! Ele é violento!
__Ele é um covarde isso sim, mas você tem razão não podemos fazer nada contra ele, mas eu posso pelo menos ir falar com ela, ver se ela esta bem.
__Mas, mãe, ela fechou a janela na minha cara, não quis conversa. Acho que se a senhora for lá ela vai bater com a porta na sua cara.
__Talvez, mas eu me sinto na obrigação de pelo menos oferecer uma palavra de conforto. Ele saiu, não saiu?
__Sim, ele saiu de carro e ainda não voltou.
__Ótimo, vou lá agora. Quer vir comigo?
Miriam pensou um pouco, mas acabou decidindo por acompanhar a mãe mesmo achando que não estava fazendo a coisa certa.
Só após tocarem a campainha pela terceira vez que a porta foi aberta um pouco, sendo possível ver apenas metade do rosto da mulher que perguntou:
__O que desejam?
__Queremos falar com você, querida. Não tenha vergonha ou medo. Só queremos oferecer nosso ombro amigo, afinal somos vizinhas.
Miriam achou que a mulher iria fechar a porta, mas para a sua surpresa, ela a abriu mais, as convidando a entrar.
__Eu sou Mariana e essa é minha filha, Miriam. Como você se chama?
__Paloma.
__Muito prazer, Paloma. Bem, como já disse antes, minha filha e eu estamos aqui para oferecer nosso ombro amigo. E depois do que aconteceu hoje, eu creio que é do que você está precisando.
Os olhos de Paloma ficaram marejados de lágrimas e com a voz trêmula ela disse:
__Meu irmão e eu estamos passando por uma fase muito difícil. Há dois anos nossos pais sofreram um acidente de carro. Papai faleceu na hora, mas mamãe está no hospital, o estado dela é muito grave. Os médicos dizem que se ela sobreviver ficará com muitas seqüelas.
Penalizadas, Miriam e a mãe não encontravam palavras para dizer o quanto lamentavam o que havia acontecido e após um instante em silêncio, Paloma disse:
__Depois disso meu irmão largou a faculdade de Direito e começou a beber muito, eu também troquei de escola. Saí de uma particular para uma pública e consegui um emprego como garçonete. Vendi nossa antiga casa, não queria, mas não tinha outro jeito. Ofereceram um bom dinheiro por ela e eu não estava em condições de negar.
__Entendo. - Murmurou D. Mariana
__Foi minha tia quem me ajudou a encontrar essa casa. Ela e eu pedimos para André vender o carro, mas ele se recusou. Pedimos então para que ele arrumasse um emprego, mas ele também se recusou. Ele quase não pára em casa, eu nunca sei onde ele está. Hoje é meu dia de folga na lanchonete e por isso ao vê-lo sentado no sofá vendo televisão, rindo do que via como se tudo estivesse bem, eu me descontrolei e comecei a gritar com ele e ele, bem, ele se descontrolou mais do que eu.
D.Mariana abraçou Paloma e disse:
__Pelo o que vejo seu irmão está sofrendo muito com o que aconteceu. E por isso está bebendo tanto. É o modo que ele encontra de esquecer por alguns instantes a sua dor. Mas isso não dá a ele o direito de te bater nem de viver as suas custas.
__Nós nos dávamos muito bem antes do acidente. Mas agora eu confesso que tenho medo dele, olho para ele e não o reconheço mais. Ele só tem vinte e quatro anos, mas aparenta ser muito mais velho. A bebida está acabando com ele fisicamente e psicologicamente.
__Ele irá precisar de uma ajuda profissional, você sabe disso, não sabe? - Perguntou D.Mariana
__Sei, eu acabei de ligar para minha tia e contei o que aconteceu. Ela me disse a mesma coisa. O difícil será convencer o meu irmão disso.
D.Mariana olhou para Paloma de um modo maternal e disse:
__ Se precisar de ajuda é só chamar. E se precisar apenas de alguém para conversar também pode chamar.
Paloma sorriu e agradeceu. Miriam e a mãe voltaram para casa.
__Quando você me contou o que havia acontecido, eu imaginei que era uma briga de marido e mulher.
__É, eu também! Não pensei que fossem irmãos. - Disse Miriam lembrando do rosto de André e acrescentando em seguida: __ Eu também pensei que ele fosse mais velho.
__Eu também. Paloma tem razão, o vício está acabando com ele. Espero que ele aceite receber ajuda profissional e tome jeito.
__Eu também – disse Miriam com sinceridade.
Tudo o que Paloma havia dito tinha mexido muito com ela. Vendo o quanto Paloma e André estavam sofrendo a fez ver que não tinha problema nenhum. Não tinha nenhum motivo para sofrer realmente. Depois do que tinha acabado de ouvir, o seu amor não correspondido por Bruno, os ciúmes que sentia ao vê-lo com Érica, o comportamento um tanto distante de Amanda, tudo isso perdeu metade da importância que ela estava dando minutos antes de entrar naquela casa.
__Veja, filha, uma carta aqui embaixo da porta. - Disse D.Mariana pegando o envelope e o entregando a Miriam dizendo: __É para você!
Miriam olhou o envelope a procura do nome de quem havia enviado, mas não havia remetente.
Curiosa, ela o abriu rapidamente sentindo que empalidecia ao ler:

Você está com frio?
Eu estou com muito frio agora.
Eu sempre estou com muito frio.
“Ele sabe quem eu sou! Ele sabe onde eu moro!” pensou Miriam tomada pelo pânico.
Para não preocupar a mãe, Miriam disse que a carta era de Bruno pedindo para que eles voltassem a ser amigos.
__Ele está pedindo isso de novo? Mas que rapaz insistente! Diga a ele para ser amigo da namorada dele.
__Vou fazer isso. - Murmurou Miriam subindo para o quarto e se jogando na cama ainda com a carta nas mãos.

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