segunda-feira, 2 de agosto de 2010


__E - Eu pensei que o único dom dela fosse ver coisas na água. – murmurou Sebastião assombrado enquanto Ezequiel se afastava indo em direção a uma árvore.
Alana teve vontade de segui-lo, mas se conteve porque sabia que ele precisava ficar um pouco sozinho para pensar em tudo o que tinha ouvido. E ela também.

XV

O silêncio não foi muito longo porque Sebastião o quebrou ao perguntar a Alana:
__Nunca desconfiou de que aquela mulher era uma bruxa?
__Não, mas acho que Igor desconfiava porque ele sempre me dizia que ela era estranha e que eu não deveria aprender a fazer as bebidas que ela fazia.
__Bebidas? Que tipo de bebidas?
__Bebidas que curavam doenças e cicatrizavam feridas. Sempre achei que poderia precisar prepará-las algum dia para alguém.
__E precisou mesmo. – disse Ezequiel se aproximando. Alana sentiu o coração bater mais rápido e se recriminou por isso, mas não havia nada que pudesse fazer para aquietá-lo no momento. Sem perceber o que provocava nela, Ezequiel continuou:
__E eu nem ao menos a agradeci por ter me curado.
__E não precisa. Foi uma honra ter cuidado de você.
Ezequiel não disse mais nada. Tudo o que planejou dizer ficou preso em sua garganta. Assim como seus olhos pareciam estar presos nos de Alana.
O cavalo de Ezequiel relinchou fazendo com que ele conseguisse desviar o olhar de Alana e rapidamente fosse ver o que tinha assustado o animal. Com a espada desembainhada, Sebastião o seguiu e disse:
__Parece que tem alguém por entre as árvores.
Seguindo o olhar do amigo, Ezequiel também viu que alguém se movia na escuridão e como um tigre avança sobre sua presa, ele avançou sobre o vulto e o atirou no chão.
__Igor! – gritou Alana surpresa ao ver o irmão.
__Céus! Eu quase matei você! – disse Ezequiel pegando-o pelo braço e o ajudando a se levantar enquanto ele dizia:
__Eu sei que disse que iria proteger sua mãe e as crianças do seu clã, mas percebi que precisava proteger a minha irmã antes de tudo e de todos e por isso estou aqui.
Sensibilizada pelas palavras dele, Alana o abraçou. Sebastião se aproximou de Ezequiel e perguntou:
__Onde será que está a espada que o senhor deixou com ele?
Ouvindo a pergunta, Igor respondeu olhando para Ezequiel:
__Eu deixei a espada com a sua mãe. Eu fui buscá-la e a deixei na minha casa com as crianças. Eu só não fiquei porque a preocupação com a minha irmã foi maior. Peço desculpas por não ter feito as coisas como disse que iria fazer.
__Não precisa se desculpar, Igor. Você está certo em vir atrás de sua irmã. Ela é que errou em nos seguir.
Alana o olhou magoada, mas antes que pudesse dizer algo, Ezequiel continuou:
__Mas eu serei eternamente grato por esse erro.
O coração de Alana acelerou novamente e ela sentiu as faces corarem. Os olhos de Ezequiel estavam fixos nos dela novamente e tudo o mais começava a desaparecer. Sabendo que precisava lutar contra aquele sentimento, Alana pegou a mão de Igor e olhando para ele disse:
__Preciso falar com você. É sobre o nosso pai.


XVI

Ezequiel e Sebastião ficaram em silêncio enquanto Alana contava a Igor tudo o que Rosália tinha dito.
__Eu já sabia. – foi tudo o que Igor disse assim que Alana terminou de falar.
__Sabia?! Mas como você soube? E por que nunca me contou?! – ela perguntou em um misto de surpresa e indignação.
__Eu tinha dez anos quando ouvi uma conversa entre Rosália e papai. Ela falava para ele ir ver Magnus porque ele queria conhecê-lo e ele disse que não. Ela, então disse a frase que me marcou para sempre: “ Você tem que ir vê-lo, Valter porque ele é seu filho!” Eu fiquei tão chocado que me afastei da porta e nem ouvi o resto da conversa. Pensei muitas vezes em te contar, mas você só tinha cinco anos, era pequena demais para entender e já estava sofrendo muito com a morte de nossa mãe.
Com os olhos marejados de lágrimas, Alana só pôde murmurar:
__Você fez o certo, meu irmão! Como sempre!
Ezequiel os olhava quando Sebastião perguntou:
__Como será que ele conseguiu nos alcançar se nem veio a cavalo?
Mais uma vez, Igor ouviu a pergunta e respondeu:
__Eu vim a cavalo, mas dois assaltantes de beira de estrada o tomaram de mim na primeira noite que parei para descansar.
__Deve ter sido aqueles dois que fugiram com medo de levarem flechadas da Alana. – disse Sebastião.
__Flechadas? – perguntou Igor olhando para Alana que empalideceu.
Percebendo o quanto ela sofria ao lembrar do que tinha acontecido, Ezequiel disse:
__Chega de conversa por hoje. Todos nós precisamos descansar.
Alana o olhou agradecida, mas ele preferiu não encarar aqueles olhos castanhos que tanto o perturbavam.

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